Quanto tempo sem sexo é muito tempo?
Ter uma vida sexual constantemente ativa é um privilégio de um número raro de pessoas. O resto dos mortais oscila entre períodos de sexo frequente e épocas sem nada, independentemente de terem ou não um parceiro.
Períodos de abstinência sexual são tão necessários quanto o jejum, mas se forem prolongados demais, especialmente sem ser uma escolha da pessoa, poderão ter consequências físicas e psicológicas. Experimente cancelar a inscrição no ginásio durante seis meses e veja como o seu corpo reage. Ou seja, a vida sem sexo é perfeitamente possível, mas não é a melhor vida, por assim dizer.
Quisemos, por isso, saber quanto tempo sem sexo é tempo demasiado? Marta Crawford, sexóloga e terapeuta familiar, tenta explicar-nos a razão da resposta não poder conter um número exato: "É muito variável porque depende do registo de cada casal. Individualmente as pessoas são capazes de aguentar mais tempo sem uma relação sexual." Marta reitera que recorrer à masturbação é uma forma de satisfação sexual, já que o que se entende por relações sexuais não se limita apenas à penetração ou masturbação recíproca, mas que abrangem muitas outras práticas e o o que de alguma forma dá prazer e satisfação. "Portanto, uma pessoa que se masturba consegue aguentar bastante tempo sem uma relação a dois", lembra, afirmando que quem não o faz também resiste mais tempo, já que por alguma razão não tem motivação sexual. "E muito tempo estamos a falar de muito tempo. Há pessoas que não tem uma relação há um ano, às vezes meses, pode muito variar e depende muito de cada pessoa."

Ou seja, uma pessoa com grande carga sexual, com grande necessidade de satisfação sexual e também de proximidade e intimidade é alguém para quem a sexualidade é muito importante e faz parte do seu equilíbrio e bem-estar – e por essa mesma razão é alguém que precisa de ser sexualmente ativa. "Uma pessoa que tem uma atividade sexual semanal ou diária, obviamente quando deixa de ter lida mal com isso porque a sua vontade é mais frequente e a abstinência mais difícil de gerir", explica a sexóloga ao completar que as pessoas aguentam muito tempo sem sexo. "Entre a personalidade da pessoa, a forma como ela se expressa sexualmente, as necessidades de cada um em cada momento da sua vida pode-se aguentar mais ou menos", conclui. Por isso nunca será possível encontrar um número certo.
É comum que casais se distanciem a uma qualquer momento e que a frequência das relações sexuais caia ou desapareça, devido a uma inúmera quantidade de fatores. Tensão maior, irritabilidade momentânea, stress, trabalho, problemas na capacidade de foco, doenças, entre outras. "Há pessoas a quem o facto de não terem sexo não lhes cria qualquer tipo de conflito e estão perfeitamente bem nesta circunstância", continua Marta. A sexóloga descreve uma parcela da população – alertando que algumas podem ter uma neutralização hormonal, que faz com que não tenham tanto apelo – e define outra: "Os que ficam nervosos, com uma grande ansiedade, insatisfação e um sentimento de solidão." Os que sentem na pele a falta de sexo também podem ter insónias, perturbação e mau-humor. "Quando não existe tanta prática, de alguma forma o organismo regula-se a essa falta e vai cada vez ser mais capaz de regular a sua vontade sexual ao longo do tempo", explica ainda terapeuta sexual.
Marta lembra existem ainda questões relacionadas com a autoestima e a capacidade de cada um sentir-se suficientemente interessante e com sucesso nos relacionamentos íntimos. "Já estamos a falar de outro género de características, que podem associar a falta de prática com outra dimensão, que tem a ver com o relacionamento e com a forma como a pessoa se vê", diz.

O principal impacto da falta de sexo por faixa etária
Dos 15 aos 25 anos – "Se é sexualmente muito ativo e deseja ter relações, obviamente há uma frustração acumulada", avança Marta Crawford. "Estamos a falar de uma etapa em que hormonalmente há muitas alterações." Se por outro lado for uma pessoa mais reservada, "a faceta sexual fica de lado" e pensa-se nisso após cumprir os objetivos académicos ou desportivos, por exemplo.
Aos 30 anos – "A maior parte das pessoas entende que nesta altura deve haver uma estabilidade sexual, especialmente para quem tem uma relação." Mas isso nem sempre acontece porque as pessoas estão a trabalhar demais ou a investir pouco no sexo, o que pode gerar um conflito nas relações conjugais. "Não é à toa que muitos procuram ajuda já na idade adulta, por alguma razão a intimidade não está a resultar", conta a terapeuta sobre as rotinas que se instalam e geram algum desequilíbrio em relação ao sexo. Quem não tem parceiro pode ter alguma ansiedade ou preocupação exatamente por ter não ter alguém.

Após ter um bebé – "Eu costumo dizer que no primeiro ano depois do parto, entre a regularização das hormonas, o tempo que a mãe está a amamentar e o seu novo papel leva-se algum um tempo até tudo estar novamente estável." Além disso está a amamentar, o que pode levar a menos interesse sexual. Mesmo a nova experiência da maternidade é todo um grande investimento pessoal e de tempo. "O primeiro ano, geralmente, é um ano conturbado", lembra Marta.
Após os 40 anos – "Nos relacionamentos que correm bem e são de longa duração há uma estabilização da frequência – pode ser uma vez por semana, de 15 em 15 dias ou uma vez por mês – e há casais que estão perfeitamente bem com isso", explica Crawford. E, às vezes, as pessoas arrastam a insatisfação por muito tempo. "Nesse período, geralmente, fazem uma reflexão porque esperam que a vida sexual seja melhor e procuram ajuda."
O que fazer se o desejo sexual do parceiro é menor que o seu

Viver uma vida de atividade sexual constante (leia-se diária ou algumas vezes por semana) acontece com pouquíssimas pessoas. O ritmo de Hugh Hefner, o criador da revista Playboy, do ator Jack Nicholson, do cantor Julio Iglesias e (há quem diga) do revolucionário cubano Fidel Castro, da rainha Isabel I da Inglaterra (paradoxalmente chamada de "rainha virgem", porque nunca se casou) e de Catarina II da Rússia não é o comum dos reles mortais.
A maioria, portanto, oscila entre períodos de atividade sexual frequente e épocas de vacas nada gordas, por assim dizer. "É a questão que leva mais gente ao consultório. Geralmente há uma das pessoas que sente que tem mais vontade do que o outro. Gera conflito, desconfiança, mal-estar… É nessas circunstâncias que não conseguem ultrapassar a questão", conta-nos Marta. E as razões que levam a que um tenha mais vontade do que outro podem ser diversas. "É preciso saber a razão e, se não conseguirem, devem pedir ajuda profissional", alerta a sexóloga e terapeuta sexual. "Não é um que tem culpa, os dois têm responsabilidade", chama atenção. O primeiro passo, portanto, é dialogar e continuar a manter o contato físico (carícias, beijos, abraços), o que tornará mais fácil retomar o erotismo. Os casais podem ainda dormir num motel, comprar brinquedos sexuais, viajar e, se nada disto resultar, procurar mesmo ajuda profissional.
