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Operações sem anestesia e outras denúncias de negligência médica feitas por mulheres nos Balcãs

Denúncias e testemunhos recentes estão a gerar uma onda de indignação em relação a cenários de terror e violência nos hospitais da região.

28 de dezembro de 2018 às 13:04 Sara Nascimento

Os testemunhos, que têm vindo a ser cada vez mais frequentes, lembram que o movimento Me Too não chegou até lugares como os Balcãs.

"Amarraram-me os braços e as pernas e começaram a intervenção sem anestesia (…) Foram os 30 minutos mais horríveis da minha vida". Ivana Nincevic-Lesandric, uma croata de 35 anos relatou o episódio perante a Assembleia Nacional da Crácia, sobre o tratamento que recebeu numa maternidade pública após ter sofrido um aborto espontâneo. O episódio passou-se em Split, sul da Croácia. "Parecia que estávamos em pleno séc. XV (…) Cada segundo durou uma eternidade", acrescentou Ivana, citada no site da Madame Figaro.

"Pretende mudar alguma coisa? Se sim, quando?" Questionou ao Ministro da Saúde, o deputado Ivan Kujundzic, ao que este respondeu que não era esse o suposto funcionamento dos hospitais na Croácia, prometendo uma investigação à situação. O hospital de Split, por sua vez, não assentiu as acusações feitas por Ivana.

Uma pesquisa recente feita por uma associação croata – Roda – sobre o tema, indica que uma em cada três mulheres na Croácia é submetida a uma intervenção/tratamento doloroso sem anestesia, sem curativos, biópsia ou outros procedimentos necessários.

Uma campanha lançada há alguns anos contra a violência sexual, psicológica e física, chamada "Brise le silence" incentivou as croatas a partilharem as suas experiências, mas tal não foi suficiente. O recente depoimento de Ivana Nincevic-Lesandric provocou uma nova onda de indignação e levou mais mulheres a ganhar coragem e testemunharem os episódios de negligência vividos. Os testemunhos, recolhidos sobretudo pela Roda são arrepiantes.

"Você não chorou enquanto fez amor pois não? Então cale a boca!" São exemplos de frases ditas a estas mulheres. "Enquanto eles prendiam as minhas mãos, pernas e cabeça, o médico dizia que eu chorava porque era uma mulher mimada", relatou uma outra testemunha à associação, que sofreu também sem anestesia.

Foram cerca de 400 testemunhos recolhidos, de mulheres de diversas cidades do país e depois entregues ao Ministério da Saúde croata.

Este movimento entre as mulheres croatas inspirou vários países da região a reagir. As mulheres dos Balcãs estão a chegar-se à frente de forma a quebrar o silêncio e a contar o sofrimento vivido nas maternidades. Uma onda de protestos que lembra o movimento feminino #MeToo.

Na Bósnia, a Associação do Parto Natural, recebeu em apenas dez dias, mais de 300 depoimentos de mulheres que passaram por tratamentos ginecológicos dolorosos. "A maternidade é o último lugar onde deve existir violência institucional contra as mulheres", disse a presidente da associação e médica, Amira Cerimagic, também citada pela Madame Figaro.

O mesmo acontece na Sérvia, onde "as mulheres entram nas maternidades assustadas e saem frequentemente traumatizadas", conta Jovana Ruzicic, membro do Centro para a Associação de Mães em Belgrado.

Uma pesquisa levada a cabo pela associação mostrou que em 2015, 10% das mulheres sérvias "não querem outro filho devido à experiência traumática que viveram no primeiro parto" diz Ruzicic.

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