Mães depois dos 40
Podem chamar-lhes quarentonas, mas não é isso que impede cada vez mais mulheres de engravidarem depois de cumprirem o 40.º aniversário. Em busca da hora certa, adia-se o desejo de maternidade. Uma tendência que, apesar de contar com muitos exemplos célebres, é cada vez mais nacional.

Para algumas foi uma opção. Para outras, uma imposição. Seja por força dos compromissos profissionais, porque esperavam pelo melhor momento, porque a vida assim o quis ou simplesmente porque sim, são cada vez mais as mulheres que abraçam a maternidade depois dos 40. Exemplos não faltam. Salma Hayek é um deles. A atriz de origem mexicana foi mãe pela primeira vez aos 41 anos. Em entrevista a um programa da Oprah Winfrey confirmou ter sido essa a sua opção. "É enervante esperar tanto tempo, mas é a melhor altura... porque já fizemos tantas outras coisas na nossa vida que nos podemos concentrar em ser mães. Aos 23 não sabemos isto porque há ainda tanto para fazer."
Alyssa Milano, colega de profissão, deu também as boas-vindas a um bebé aos 41, assim como Nicole Kidman ou Tina Fey, a estrela de 30 Rock. Mas houve quem se aventurasse na maternidade ainda mais tarde. Como Carla Bruni, casada com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, mãe aos 43, a cantora Mariah Carey, que aos 44 foi mãe não de um, mas de dois bebés, os gémeos Monroe e Moroccan, ou a atriz Geena Davis, mãe de primeira viagem aos 46 e que, não assustada pela idade, o voltou a ser dois anos depois, à beira dos 50, também de gémeos. Parece uma coisa de celebridades, mas não é. Por cá também as há, mais e menos famosas, uma tendência que, dizem os números nacionais, é cada vez mais nossa. Um olhar mais atento aos dados do InstitutoNacional de Estatística e do portal Pordata não deixa dúvidas: as mulheres estão a ser mães cada vez mais tarde. Contas feitas, a idade ao nascimento do primeiro filho passou dos 26,8 anos, que era a média em 2001, para os 29,2 uma década depois. A estes dados junta-se o do aumento de mães com mais de 40 anos, que tem sido inversamente proporcional ao número de nascimentos. Ou seja, a diminuição do número de bebés nascidos no País fez-se acompanhar por um aumento do de mães quarentonas. Em 2013, 4,4% do total de crianças nascidas tinham mães com mais de 40.
Carla Franco é um dos nomes que ajudou a engordar estas estatísticas. Há três anos, decidiu repetir a experiência da maternidade. Tinha então 43, uma filha de 14 e o desejo de voltar a ser mãe. "O meu marido sempre me pediu um segundo filho, mas eu não me sentia preparada porque não tinha a vida estável que desejava", recorda. Uma estabilidade que a fez esperar e que põe em modo de pausa o desejo de paternidade de muitos portugueses. De resto, segundo os dados de um estudo do Instituto de Ciências Sociais, as razões económicas são mesmo as que mais contribuem para que se adie a chegada da cegonha.
óvulos, a probabilidade de ter um bebé com trissomia 21 é de cerca de 1 em 100 aos 40 anos, aumentando para 1 em 30 aos 45", esclarece o médico. Depois, do lado dos contras há que juntar "as complicações na gravidez – diabetes gestacional, hipertensão, risco de parto pré-termo, etc. –, sendo ainda maior a probabilidade de aborto espontâneo". Apesar de tudo isto, os números comprovam que são muitas as gravidezes que chegam a bom porto a partir dos 40. Até porque, reforça o especialista,
"um acompanhamento obstétrico rigoroso e a adoção de um estilo de vida saudável podem diminuir significativamente a probabilidade de algumas destas complicações". Medidas que as mulheres mais velhas tendem a levar mais a sério. "As mulheres com mais de 40 anos têm
normalmente uma situação familiar, profissional e financeira mais estável, além de terem maior maturidade e serem por norma grávidas mais cuidadosas e que aderem mais facilmente a um estilo de vida saudável. Além disso, a experiência mostra-nos que nesta idade as mulheres são
também mais rigorosas no cumprimento das indicações e conselhos médicos, o que é particularmente importante."
Aos 40, Carla Franco decidiu que era "agora ou nunca". Parou de tomar a pílula e, três meses depois, confirmava a gravidez desejada. "Mas acabei por sofrer um aborto retido, o que foi uma grande desilusão." Ainda assim, não desistiu e cinco meses mais tarde voltava a testar positivo. "Tive uma gravidez muito calma, mas ansiosa, não só por já ter perdido uma criança mas também porque entretanto fiquei desempregada." A história termina com um final feliz: Raquel nasceu prefeita, com quase quatro quilos.
"VELHOS SÃO OS TRAPOS"
Há quem diga que os 40 são nos novos 30. A sociedade justifica-o com a saída cada vez mais tardia do ninho, com a aposta prolongada nos estudos, que adia para depois a entrada no mercado de trabalho e consequente independência financeira. E, claro, a parentalidade. As mulheres rejeitam o carimbo de quarentonas, sendo cada vez mais as que mostram como a idade parece ser mais um estado de espírito do que outra coisa. Carla Franco também recusou o rótulo de "velha" e os olhares reprovadores quando decidiu repetir a experiência da maternidade aos 43 anos. "Velhos são os trapos. Ao fim e ao cabo, atualmente, com o evoluir da medicina e com os cuidados redobrados, nunca é tarde para tentar a concretização de um sonho."
Mas se a máxima é válida em muitas áreas da vida, na maternidade nem sempre é assim. E a facilidade aparente com que algumas mulheres engravidam a partir de certa idade contrasta com as certezas científicas que salientam as dificuldades. Porque aqui o que o nosso corpo reflete mesmo é a idade que temos.
"Enquanto uma mulher saudável de 25 anos tem uma probabilidade de gravidez natural de cerca de 25% em cada ciclo menstrual, a partir dos 40 essa probabilidade é de cerca de 5%, baixando rapidamente por cada ano que passa, sendo mesmo nula quando a mulher entra na menopausa", garante Vladimiro Silva, administrador
e responsável pelo laboratório de procriação medicamente assistida da Ferticentro.
É aqui que entra a medicina, cujos avanços têm permitido contrariar alguns dos obstáculos colocados pela natureza. Mas mesmo assim não há milagres, assegura o especialista. "Com o recurso a tratamentos de fertilização in vitro conseguimos taxas de gravidez com óvulos próprios que começam por ser de cerca de 20-25% aos 40 anos, baixando para menos de 5% a partir dos 43."
Lisete Simões conhece bem essas dificuldades. Aos 41 anos, quando decidiu engravidar novamente – já tinha uma filha, de 22 anos –, teve de as enfrentar. A fertilização in vitro foi o caminho encontrado para transformar em realidade um sonho antigo, mas só à sexta tentativa e cinco anos depois é que o resultado foi o desejado. "É um processo difícil", confessa. "Só a força de vontade é que nos leva a continuar." A força de vontade e o desejo que, no seu caso, vinha de longe. "Sempre quis ter mais do que um filho, mas o meu primeiro marido
não", conta à Máxima. "A vida deu muitas voltas, em 2009 divorciei-me e encontrei outra pessoa que não tinha filhos e os desejava tanto quanto eu."
CUSTOS DISPARAM
Para além dos entraves colocados pela natureza, a luta pela gravidez trava-se também noutras frentes. A ajuda médica tem custos que, a partir dos 40, são mais elevados. É que os hospitais públicos não aceitam as mulheres que procuram concretizar o desejo de maternidade na quarta década de vida. A única solução é, afirma Vladimiro Silva, "o recurso ao privado", com custos que dependem do tipo de procedimento médico necessário.
"Um tratamento de fertilização in vitro com óvulos próprios custa cerca de €4200 a €4800, aumentando este valor para cerca de €6000 a €6500 se o tratamento for feito com doação de óvulos", acrescenta.
"É muito caro", confirma Lisete Simões. "Depois dos 40 já não há ajudas para os casais, que já não são interessantes para as estatísticas", desabafa. Isto apesar do importante contributo das mulheres mais velhas para as taxas de natalidade. "E de facto há muita gente com mais de 40 anos a ter bebés. Não tinha essa noção. No sítio onde fui seguida eram muitas. Quase tantas quanto as que tinham menos idade."
